Promotor considera injusta decisão que condenou tenente acusada de matar aluno bombeiro sinopense
Foto por ARQUIVO PESSOAL
O promotor de justiça responsável pela ação contra a tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza Dechamps, acusada pela morte do aluno dos bombeiros Rodrigo Claro, em novembro de 2016, em Cuiabá, apontou que a decisão dessa quinta-feira (23) que desconsiderou tortura e condenou a tenente apenas pelo crime de maus-tratos é "injusta e equivocada".
Paulo Henrique Amaral Motta afirmou que vai recorrer da sentença ainda nesta sexta-feira (24) por uma pena mais rígida.
Conforme a decisão dessa quinta-feira, Ledur deverá cumprir um ano de prisão, em regime aberto, por maus-tratos. Ela não perderá o cargo militar. A Justiça ainda pode avaliar se ela deverá seguir medidas cautelares.
O juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, foi seguido pela maioria do Conselho Militar, exceto pelo tenente-coronel Abel, do Corpo de Bombeiros, que entendeu que a tenente Ledur praticou o crime de tortura.
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Rodrigo Claro morreu em 2016 — Foto: TVCA/Reprodução
De acordo com o juiz, o exame de necropsia concluiu que a morte de Rodrigo Claro foi por hemorragia cerebral de causa natural e não por decorrência do emprego de tortura.
"Os caldos podem até ter contribuído com a causa da morte, mas não há prova suficiente ante a análise do médico legista e dos médicos que atenderam a vítima Rodrigo Claro na data dos fatos", diz.
Para o promotor Paulo Henrique, será interposto recurso de apelação ainda nesta sexta "em razão da total irresignação".
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Izadora Ledur — Foto: TV Centro América
O advogado de Ledur, Huendel Rolim, afirmou que os juízes entenderam que a tenente jamais teve vontade de castigar ou torturar Rodrigo. A defesa sempre sustentou essa tese, desde o início das investigações, e o julgamento sedimentou, com base nas provas.
“Ficou provado também que a causa morte não tem qualquer responsabilidade da tenente Ledur. Infelizmente foi uma fatalidade, conforme as provas apontam”, comentou Rolim.
Em vídeo divulgado após o julgamento, a família de Rodrigo disse que não concordou com a decisão, mas que apresentou todas as provas sobre o caso de Rodrigo.
Desde a morte de Rodrigo, a Justiça investiga se houve abusos por parte dos instrutores do curso de formação.
O estudante do curso de formação de soldados do Corpo de Bombeiros foi internado após passar mal em uma aula na Lagoa Trevisan, em Cuiabá.
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Rodrigo Claro morreu em novembro de 2016 — Foto: Antônio Claro/Arquivo pessoal
Rodrigo ficou em coma na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) de um hospital particular da capital e morreu cinco dias depois. O jovem fazia aula de instrução de salvamento quando passou mal.
Segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) a tenente Ledur, que era a instrutora do curso, usou de meios abusivos de natureza física e de natureza mental.
Depoimentos de outros alunos, da família e testemunhas apontaram que Rodrigo disse que tinha medo da tenente e que dias da morte, durante outro treinamento, Ledur o empurrou na piscina.
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Rodrigo Claro e a mãe, Patrícia Claro — Foto: Arquivo pessoal
Os amigos relataram que Rodrigo não era tão bom na água, que tinha suas limitações, que durante a prova pediu pra parar, para desistir, mas que Ledur ficava dando 'um caldo' no aluno.
Versão da tenente
Já a tenente disse, em depoimento à Justiça, que a vítima tinha “descontrole emocional na água e não estava preparado para ser bombeiro". O curso teria sido o segundo aplicado por ela. Ledur garante que não aconteceu nada diferente nesse curso em relação ao anterior. “A diferença é a resposta do aluno”, diz.
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Rodrigo Claro — Foto: Facebook/Reprodução
Atualmente, ela desempenha funções administrativas. Desde a morte de Rodrigo, em novembro de 2016, Ledur apresentou vários atestados médicos.
A morte do aluno
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Em mensagem enviada para a mãe, Rodrigo disse que estava com medo — Foto: Reprodução/TVCA
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro de 2016, cinco dias após passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, na qual a tenente Izadora Ledur atuava como instrutora.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Rodrigo demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre e outros exercícios.
Ainda segundo o órgão, depoimentos durante a investigação apontam que ele foi submetido a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude, segundo o MPE, teria sido a forma utilizada pela tenente para punir o aluno pelo mal desempenho.
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Rodrigo passou mal na aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá — Foto: Reprodução/TVCA
Durante a realização das aulas, Rodrigo queixou-se de dor de cabeça. Após a travessia a nado na lagoa, ele informou ao instrutor que não conseguiria terminar a aula.
Em seguida, segundo os bombeiros, ele foi liberado, retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde e sofreu convulsões, vindo a morrer alguns dias depois.