Energia produzida não acompanhou crescimento econômico e populacional
Uma combinação de fatores fez com que as contas de energia elétrica chegassem a valores exorbitantes: a maior estiagem dos últimos 90 anos no Brasil e a falta de investimento para aumentar a produção de energia hidroelétrica, que está estagnada há mais de uma década.
O que acarretou para que o país importasse energia elétrica para evitar um novo apagão e comprasse energia térmica, muito mais cara e muito mais poluente por ser oriundo da queima de combustível fóssil.
“Hoje nós temos poucas hidrelétricas para firmar um sistema de energia que tem mais de 30% de geração intermitentes”, explica Ricardo Pigatto, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).
Para o especialista, isso aconteceu porque o Brasil deixou de fazer o planejamento para reservatórios hidrelétricos devido à falta de uma regulamentação prática de licenciamentos ambientais.
“Se nós tivéssemos mais reservatórios em regiões de boa pluviometria, como é o caso específico de Mato Grosso, os problemas do Brasil estariam sendo bem menores e a nossa energia estaria custando bem menos para o bolso do consumidor que já está sendo bastante castigado”, complementa.
Essa é a mesma opinião de Paulo Arbex, presidente da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (ABRAPCH).
“O Brasil é a maior potência hídrica do planeta, com 12% da água doce do mundo. Essa seca prolongada não seria um problema para o setor energético se a gente tivesse continuado fazendo os reservatórios que a gente precisa. Não só para gerar energia, mas para abastecer as nossas cidades, irrigar as lavouras e garantir uma dignidade humana”, avalia.
Para se ter uma ideia do que os especialistas afirmam, 95% da energia consumida no Brasil em 1999 veio das hidrelétricas. Isso foi antes do apagão histórico entre julho de 2001 e fevereiro de 2002, ocasionado devido à falta de planejamento e investimento no setor.
No primeiro semestre deste ano, em que houve pouquíssimas chuvas, 72,6% da energia consumida nas residências, comércios e indústria veio das hidrelétricas. Todas as outras fontes, incluindo a solar, eólica e térmica a gás, óleo diesel, carvão ou biomassa não chegam a 28%.
Para Arbex, a demonização das hidrelétricas fez com que nos últimos 20 anos o crescimento dos reservatórios não acompanhasse a demanda de energia, que cresceu 80%, causando um déficit de água e de energia que está impactando não só as cidades como a agricultura.
“Existe um mito de que as pequenas centrais hidrelétricas possam acabar com os rios, mas isso não corresponde à verdade. Na verdade, elas são fontes de energia limpa e renovável cuja construção gera emprego direto e depois de prontas estimulam o desenvolvimento local”.
A falta de investimento no setor elétrico fez com o Brasil precisasse importar energia de países vizinhos como a Argentina e o Uruguai, além de contratar térmicas, que são bem mais caras e emitem 115 vezes gases do efeito estufa do que as hídricas. O que, além de pesar cada vez mais no bolso do consumidor, polui ainda mais o meio ambiente.
Mato Grosso é alternativa para gerar energia limpa
Voltar a investir em hidrelétricas, principalmente as pequenas centrais, é a alternativa mais viável em termos ambientais e econômicos.
“Quanto mais estável for o rio, maior será a quantidade de energia média que se gera e essa é uma das melhores características dos corpos hídricos de Mato Grosso e não podemos desprezar isso porque lá na frente o futuro vai nos cobrar”, afirma Ricardo Pigatto, da Abragel.
Apesar desse favorecimento geológico, o estado está ficando para trás. Quase todos os estados do Nordeste, incluindo Sergipe, o menor do Brasil, gera mais energia que Mato Grosso. No entanto, existem projetos que precisam sair do papel para desafogar o setor.
Pigatto defende, particularmente, o complexo de seis PCHs abaixo da Usina de Manso, que possui capacidade de gerar cerca de 150 megawatts, o suficiente para atender a demanda de 1,25 milhão de pessoas ou 330 mil residências.
Resumo da quantidade de usinas e potência em MW de alguns estados brasileiros, com áreas menores que o MT: