"Para quem não tomar Coronavac, eficácia será 0%", diz médico
O resultado da eficácia geral de 50,34% da Coronavac pode ter parecido negativo para alguns, mas o investigador principal dos testes do imunizante em Mato Grosso, o infectologista Cor Jesus Fernandes Fontes, explicou que o índice já era esperado pelos especialistas.
Cor Jesus reforçou a importância da vacina desenvolvida pelo Brasil e se mostrou otimista com o pedido de autorização feito à Anvisa.
"Nossa pesquisa foi muito rigorosa, por isso ficamos muito tranquilos com o resultado. Continuo muito otimista e justifico a razão: para quem não tomar a vacina, a eficácia será 0% e, quem tomar, está em 50%. Se tenho uma estratégia para proteger 50% das pessoas, a tão esperada e falada imunidade de rebanho vai ser alcaçada mais rápido. E, por último, é uma vacina segura. Continuo dizendo que temos que ter esperança nessa vacina".
Ao MidiaNews, o médico explicou que a equipe já esperava que a eficácia geral não chegasse a patamares próximo de 100%. Como a Coronavac é produzida com vírus inativado, produz resposta imunológica menor do que outros tipos de vacina produzidas com o vírus vivo.
No entanto, é esse mesmo fator que torna a Coronavac extremamente segura e eficaz, afirmou Cor Jesus.
"Já esperavámos uma eficácia menor do que a da Pfizer e Moderna, por exemplo. Apesar da Pfizer não ser feita com o vírus ativo, ela usa uma tecnologia muito parecida com o vírus sendo multiplicado no nosso corpo, então se assemelha a ele. O mesmo acontece com as outras candidatas que usam recombinação e modificação genética".
O infectologista explicou que o fato do Instituto Butantan ter escolhido testar a vacina em profissionais de saúde, grupo em que a incidência de contaminação pelo novo coronavírus é alta, foi um risco que os especialistas optaram por correr.
"No grupo que recebeu a vacina [feita no Brasil] a incidência da doença chegou perto de 30%, ou seja, quase um terço das pessoas foram contaminadas num prazo curto de acompanhamento. Mas não dá para comparar, porque outros laboratórios testaram na população geral, onde a incidência é menor mesmo. Trabalhamos com a maior dificuldade para provar que nossa vacina tem eficácia".
Testes em Mato Grosso
No Brasil, o Instituto Butantan incluiu quase 13 mil participantes voluntários, todos profissionais da saúde. Em Mato Grosso, Cor Jesus explicou que até o momento, 410 voluntários participaram. Não foi registrado nenhum caso de efeito colateral grave.
"Começamos na segunda quinzena de outubro, agora que completaremos três meses de observação. É um tempo curto ainda. Nós estamos aguardando a autorização da Anvisa. Porque assim que ela [a Coronavac] for autorizada no Brasil, chamaremos quem tomou placebo para tomar a vacina. A partir disso, acompanharemos todos para observar a incidência da doença e possíveis efeitos colaterais tardios. Esse acompanhamento continua por 12 meses, conforme previsto em protocolo".
Segundo o infectologista, as reações decorrentes da aplicação da Coronavac não diferem de outras vacinas.
Cor Jesus ressaltou que o fato de em outros países a taxa de eficácia da vacina ser maior que no Brasil, é decorrente da forma com que cada teste foi feito.
"Aguém pode perguntar: 'Como a Coronavac na Turquia deu 91% [de eficácia] e aqui não?'. Bom, lá eles trabalharam com a população geral e incluíram apenas 800 pessoas. Como já havia explicado, o Brasil optou seguir os testes com profissionais de saúde e foram mais de 10 mil voluntários. Então não dá para comparar os resultados".