Áudio revela reações de empresário e mãe de garota morta; ouça
A gravação de uma conversa telefônica entre o empresário Marcelo Cestari e um médico do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência), à qual o MidiaNews teve acesso, revela momentos de tensão e desespero logo após a morte da adolescente Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos.
Ela foi atingida por um disparo feito pela amiga, da mesma idade, filha de Cestari. A tragédia ocorreu no último dia 12 de julho, na casa do empresário, no condomínio Alphaville, em Cuiabá.
A filha contou à Polícia Civil que atingiu a amiga com um disparo acidental, após um case com duas armas caírem no chão, próximo ao banheiro onde a vítima faleceu.
Na gravação, de 14min30, é possível acompanhar a dinâmica dos fatos após a morte, como o nervosismo do empresário para tentar reanimar a jovem, a descoberta de que se tratava de um tiro, e não de uma queda – como inicialmente ele havia pensado.
A gravação revela também o desespero da mãe de Isabele, Patrícia Guimarães Ramos, que chega ao banheiro e se depara com o corpo da filha, e a chegada do médico Manuel Garibaldi, amigo da família, que constatou a morte.
O áudio é identificado como sendo a sétima ligação feita entre o Samu e a casa do empresário, que conversou com os socorristas por duas vezes. O telefonema foi feito às 22h02 daquele domingo.
Inicialmente, o empresário fala ao médico socorrista o que ele acha que ocorreu e pede auxílio.
Marcelo Cestari: Ela caiu no banheiro, bateu a cabeça e perdeu uns dois litros de sangue. Por favor! [Venha] Muito rápido! É queda no banheiro.
Samu: Ela tá acordada?
Cestari: Desacordada.
Samu: Dá para ouvir ela respirar?
Cestari: Não estou sentindo a respiração dela.
Samu: Sabe me dizer se ela tem pulso, senhor?
Cestari: Não, ela não tem pulso no pescoço. Rápido, rápido!
Samu: Senhor, deixa ela em uma superfície rígida, pode ser no chão. Entre os dois mamilos dela, o senhor vai começar a iniciar a compressão. Se ela não estiver respondendo, se ela não responde quando o senhor tocar nela, o senhor inicia a compressão.
Marcelo Cestari: Não, eu acho que já está desfalecida.
Segundos depois, o profissional do Samu indaga Cestari sobre a ocorrência. Inicialmente, o empresário nega que tenha sido um tiro e reafirma ter sido uma queda no banheiro.
Samu: Senhor, é queda no Jardim Itália?
Cestari: É queda, no Alphaville 1.
Samu: É tiro ou queda, senhor?
Cestari: É queda, queda.
Samu: Tudo bem, senhor. Porque tem outra ocorrência dizendo que é tiro, senhor. Se for ...
Cestari: Não tem nada de tiro, não.
Samu: Ok, senhor. Então inicia a compressão entre os dois mamilos dela. O senhor vai iniciar a compressão no peito. Vai fazer de 100 a 120. Um, dois, três, quatro (...).
No áudio, é possível ouvir que Marcelo - com as instruções do socorrista - começa a fazer a compreensão cardíaca para tentar reanimar a adolescente. "Tem que ser rápido porque ela perdeu muito sangue", disse.
“Foi um tiro”
No momento seguinte, é possível inferir que a filha – amiga da adolescente morta - aparece no quarto e o pai se dirige a ela e pergunta: “O que que foi? Ela caiu? O que aconteceu?”
A adolescente então explica ao pai que ocorreu um tiro acidental após a queda da arma. Na gravação da chamada, não é possível ouvir com clareza as palavras da menina.
Momentos depois ele é interrompido pelo médico socorrista do Samu.
Samu: Marcelo, estão nos informando que foi tiro.
Marcelo Cestari: Pois é.. Agora que a menina está falando.
Samu: Ok, Marcelo. Continue as compressões, faça o seu melhor. Minha ambulância está a caminho e a gente vai chamar a polícia.
Chegada da mãe: "Meu Deus"
Neste momento, a mãe da Isabele, Patrícia Guimarães Ramos, chega ao banheiro e grita desesperada: “O que que aconteceu? Meu deus!".
Marcelo então pede calma à mulher e se reporta ao Samu. “Oi, a mãe dela chegou aqui. [Aguarda] Só um pouquinho”.
Após esse momento, é possível ouvir a mãe dizer: “Eu não consigo. Eu não consigo”. E Marcelo constata: “Ela não tem mais pulso, ela não tem mais pulso”.
O médico do Samu pede que Marcelo continue com as compressões, e é possível ouvir novamente a mãe gritar: “Meu Deus”.
“Não é agressor, foi acidente”
O socorrista orienta Marcelo a fechar a porta do banheiro para que continue a realizar as massagens cardíacas. Ele obedece. Em seguida, pergunta se no local se encontra um possível agressor.
Samu: Eu quero que o senhor me informe se o senhor está seguro. Se o agressor está no local.
Marcelo Cestari: [Ofegante] Não é agressor, é acidente.
Choro e desespero
Após oito minutos com o socorrista ao telefone, Marcelo começa a chorar e revela: “Não tem mais [pulso]. Já tem muito sangue no chão”.
Samu: Tudo bem, Marcelo. Mas vamos tentar manter a circulação do que ela tiver de sangue para que a nossa ambulância, quando chegar ao local, tentar dar o suporte para ela. Continua a compressão.
Marcelo Cestari: Eu estou preocupado com meus filhos. Eles estão lá em baixo. Eu estou desesperado.
(...)
Samu: Estou sabendo que tem uma moça no local, se ela puder te ajudar com a compressão.
Marcelo Cestari: É a mãe da menina. Minha vizinha que está aqui.
Samu: E ela não consegue?
Marcelo Cestari: Ela não consegue. E até onde eu sei parece que ela é médica. Mas é a filha dela.
(...)
Samu: Se o senhor estiver cansado e não conseguir mais, o senhor está autorizado a parar. Fica a seu critério.
Marcelo Cestari: Não, eu não vou parar. Eu não quero parar.
O empresário então continua a realizar massagem cardíaca na adolescente sob instrução do médico e chega a realizar respiração boca-a-boca.
Chegada do médico: “Ela está morta”
O médico Manuel Garibaldi, vizinho e amigo da família, então chega ao local e é anunciado por Cestari.
Marcelo Cestari: Chegou um médico aqui, mas não é o Samu ainda, não. É um vizinho meu.
Samu: Perfeito, então deixa eu conversar com ele.
Então é possível ouvir quando Garibaldi constata o óbito da adolescente. “Ela está morta, não tem [...] Ela está morta. Ela não tem pulso”.
Uma mulher pergunta: “Foi no coração?”. Garibaldi responde: “Não, foi na cabeça o tiro”.
O socorrista então pede para que o médico o informe sobre a situação.
Manuel Garibaldi: Olha, na minha avaliação ela está morta já. [...] Foi um tiro na cabeça.
Samu: Tem extravasamento de massa encefálica?
Manuel Garibaldi: Não. Mas tem uma quantidade de sangue muito grande.
Samu: Doutor, se o senhor puder orientar o pessoal a fazer a interrupção [da massagem cardíaca]. Porque nosso protocolo é realizar, até a chegada da ambulância. Eu vou informar meu pessoal que está na rua.
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